Respawn de Memórias
Desde pequena eu jogo videogames. Uma das minhas memórias mais antigas é do meu irmão mais velho fazendo minha mãe vender algum tipo de rifa para tentar ganhar um videogame, eu não devia ter mais que 4 anos (hoje tenho 34). Outra memória marcante foi quando, no primeiro Natal que meu irmão passou empregado, ele comprou um PlayStation 1 pra gente. O PlayStation 2 tinha acabado de ser lançado, mas a gente não ligou de ter o modelo antigo, estávamos apenas imensamente felizes de termos um PlayStation. Uma das mágicas do videogame para mim está em como ele me uniu aos meus irmãos. Sou filha do meio de um grupo de três e, além de ser do meio, sou a única menina. Tenho cinco anos de diferença para o meu irmão mais novo e quatro para o meu irmão mais velho e, apesar de sermos bem unidos hoje, isso não era verdade na infância e na adolescência. Mas, ainda assim, eu tenho memórias felizes da gente na sala jogando juntos jogos multiplayer ou assistindo uns aos outros jogar jogos de um jogador só. E quanto mais escrevo, mais memórias relacionadas a video games e meus irmãos vão sendo resgatadas em meu cérebro. Sonic, Final Fantasy, Dino Crisis… Lembrar disso enquanto escrevo me enche de nostalgia e faz meus olhos marejaram. Tenho certeza que até terminar de escrever, uma lágrima ou outra vai cair. Escrevo da casa do meu irmão mais velho, onde vou passar uns dias cuidando dos meus sobrinhos felinos enquanto meu irmão e minha cunhada saem de férias. Mas moro mesmo em uma cidade pequena que fica algumas horas de distância daqui, na mesma cidade que meu irmão mais novo. Quando cheguei aqui no sábado, ele fez questão de me fazer jogar o começo de um jogo que ele está jogando e gostando muito. Antes de vir para cá, meu irmão mais novo e eu estávamos discutindo sobre a atualização de um jogo que nós dois jogamos. Não dá para escapar, meu relacionamento com meus irmãos pode não precisar de jogos para sobreviver, mas é certamente fortalecido por eles. E toda essa reflexão me traz ao motivo pelo qual estou escrevendo ao invés de estar dormindo. Estou passando por um momento emocionalmente difícil. Estou ansiosa e um tanto quanto deprimida e preocupada. Acredito que em breve vou receber uma oferta de emprego na capital, que fica cerca de cinco horas de ônibus de onde moro atualmente, e se eu a aceitar essa proposta vou ter que ir para longe do meu irmãozinho (que tem 29 anos, é casado, e tem um filho de três anos que é o amor da minha vida), a quem vejo quase todo dia. Apesar da oportunidade ser ótima para a minha carreira, estou morrendo de medo de que a distância mude o relacionamento que tenho atualmente com ele. A ideia inicial dessa crônica me faz pensar se talvez algum jogo online pode nos ajudar a continuar unidos. Que o videogame tem esse poder, eu sei, mas isso será o suficiente? Eu me questiono. E com todos esses questionamentos eu não consigo dormir. Já passou da meia-noite e eu realmente queria dormir. Videogames podem ser fonte de escapismo, de diversão e de união e, apesar do que boa parte da sociedade acredita, eles não são coisa de criança apenas. Acho que vou jogar Final Fantasy e tentar cansar o meu cérebro para ver se consigo dormir.