Sentada aqui, sozinha, em uma das últimas fileiras da igreja, olhando minha melhor amiga de infância se casar, eu me pergunto mais uma vez por que estou aqui. Eu sei bem que Emma só me convidou para o casamento por educação — já não somos mais amigas faz anos. Um dos motivos é justamente o fato de ela ter começado a namorar o Arthur (sim, o noivo) mesmo sabendo que eu era apaixonada por ele. Ela vivia falando mal dele sempre que eu o mencionava em nossas conversas! E, do nada, lá estavam eles indo pra escola de mãos dadas. Como esquecer uma facada dessas? Eu gostava dele, mas eu amava ela.

Na verdade, nem foi por educação que fui convidada, e sim pelo desconforto que Emma deve ter sentido ao ver minha querida mãe — que também é sua madrinha — sorrindo carinhosamente e pedindo pra eu ir no lugar dela. Fico desconfortável só de lembrar da cena: minha mãe, com a perna machucada, avisando à Emma que não poderia ir e dizendo que eu iria em seu lugar — sem perguntar nem pra mim, nem pra Emma se aquilo era ok. Mas quem diz não pra minha mãe? Ela é tão querida.

Conheço quase todos os convidados, mas não sou próxima de ninguém, então estou sozinha. 28 anos e sozinha no casamento do meu primeiro amor com minha primeira melhor amiga. Patético. Meu cabelo é curto, então não fiz nada de especial nele, mas confesso que gastei meia hora nessa maquiagem. E nem vou comentar quanto gastei no vestido: uma peça vermelha, justa na parte de cima, com uma saia cheia e rodada na altura dos joelhos. Sim, eu queria me sentir linda hoje. Não que isso esteja ajudando agora.

Finalmente a cerimônia acabou, e o salão de festas é bem aqui do lado. Eu, que raramente fumo, acendo um cigarro do lado de fora, só pra não precisar entrar agora. Depois de fumar devagar, respiro fundo e entro no salão, indo direto pro bar. Álcool vai me ajudar a ficar pelo menos um pouco, por educação. E quem sou eu pra dizer não pra um open bar, não é mesmo?

Bebendo meu drink, observo Emma e Arthur dançando, com inveja. Não deles especificamente — já superei o Arthur há muitos anos. Mas inveja de ter alguém. Bem aquele clichê de querer alguém que olhe pra mim como ele está olhando pra ela enquanto dançam. Solto um longo suspiro e viro a bebida do meu copo. Me viro pra pedir outra, mas antes que consiga a atenção do barman, alguém coloca um copo cheio na minha frente. — Noite difícil? — uma voz profunda e masculina me pergunta. — Difícil não, apenas entediante — digo, virando pro lado pra ver de onde veio o drink misterioso... e dou de cara com o Marcelo. Acho. Parece o Marcelo, mas muito mais alto, adulto e... homem. — Marcelo? — Oi, Aninha — ele diz, se aproximando pra me dar um beijo na bochecha que dura mais do que deveria. A